Karoline G. Mendes
João José Bigarella, geógrafo, geólogo,
geomorfólogo, engenheiro químico e professor universitário, nascido na segunda
década do século passado, natural de Curitiba PR, atualmente com 91 anos, é um
cientista da terra que estudou diversas áreas, principalmente no campo da
Geologia. Bigarella iniciou seus estudos na Universidade Federal do Paraná, e
lá se formou em engenharia química, porém, acabou se relacionando cada vez mais
com a natureza e se dedicando à geologia após ter estagiado no Instituto de
Biologia de Pesquisas Tecnológicas (IBPT), onde seu interesse pelas pesquisas
científicas foram aguçados. Nos mais de 60 anos de carreira, contribuiu
consideravelmente com pesquisas e artigos sobre os mais variados temas da
Ciências da Terra, dentre os quais, alguns aqui serão apresentados.
Entre suas pesquisas conhecidas
internacionalmente, destaca-se a interpretação dos paleoambientes, feita por
meio de uma revisão global dos depósitos eólicos (dunas). Sobre estes
depósitos, J.J Bigarella, realizou pesquisas de medições de estratificações
cruzadas, marcas de ondas, ferramentas e outras estruturas sedimentares, o que
possibilitou descobrir como era o clima no passado e a direção das correntes de
vento no momento da deposição de sedimentos em determinado lugar.
Em uma entrevista cedida ao Memória
Paranaense, Bigarella fala de sua pesquisa sobre paleocorrentes, realizada no
continente africano e também na América Latina, com o propósito de entender
sobre os aspectos paleogeográficos do antigo continente de Gondwana. Foram
realizadas então, medições das paleocorrentes em formações existentes nos dois
continentes, como arenitos eólicos que constituem dunas e antigos desertos, o
que possibilitou reconstituir toda a circulação e a posição dos dois
continentes há 120 milhões de anos.
Além disso, J.J Bigarella também conta
que na segunda metade da década de cinquenta, junto com outros pesquisadores,
desenvolveu um trabalho sobre o estudo do grande deserto do Botucatu que
existiu no sul do Brasil. Neste trabalho, determinaram a direção que os ventos
sopravam há 120 milhões de anos. Graças a este estudo, foi possível comprovar
que o oceano Atlântico já existia há 120 milhões de anos atrás, que, é claro,
existia não como hoje, mas já havia uma quantidade de água entre a América
Latina e a África.
Outro grande trabalho de autoria do
professor João José Bigarella, se refere à revisão da geologia e geomorfologia
do quaternário brasileiro, que contribuiu para o entendimento da pedimentação
(formação de pedimentos em áreas secas) e pediplanação (processo que leva, em
regiões de clima árido a semi-árido, ao desenvolvimento de áreas aplainadas, ou
então superfícies de aplainamento) do Brasil. Bigarella foi um dos
geomorfólogos brasileiros que procurou entender os dois fenômenos acima
mencionados, a partir de taxas de epirogênese e as variações climáticas
ocorridas ao longo do Quaternário. Tendo como pressuposto que determinada área
passou de uma fase de tropicalidade para uma fase árida, Bigarella pretendia
demonstrar as transformações do relevo tropical quando ocorria uma variação
climática do úmido para o seco e vice-versa.
Bigarella publicou diversos livros e
artigos no decorrer de sua carreira, sendo muitas em parceria com colegas de
trabalho e outras de cunho pessoal. Entre suas grandes obras se encontram: Contribuições
ao Estudo dos Calcários do Estado do Paraná (1956); Paleocorrentes e Deriva
Continental (comparação entre América do Sul e África); A review of South
American Gondwana Geology; entre outras, muitas também internacional.
Referências bibliográficas:
BIGARELLA, João José. In: Wikipédia: a
enciclopédia livre. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Jos%C3%A9_Bigarella . Acesso
em: 9 set 2014.
BIGARELLA, João José. In: Academia
Brasileira de Ciências. Disponível em: www.abc.org.br/~jbigarella . Acesso em: 9
set 2014
Entrevista. Memória Paranaense João José Bigarella -
integral – 1997. Disponível em:
VITTE, Antônio Carlos. A
CONSTRUÇÃO DA GEOMORFOLOGIA NO BRASIL. Revista Brasileira de
Geomorfologia, v.12, n.3, p.91-108, 2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário